domingo, julho 05, 2009

De carne e osso à tela do computador

Foto: Fabio Rossi – O Globo



Ainda lembro bem do dia que um dos vários ministros anunciou que o Governo Federal iria cobrir todas as cidades brasileiras com internet de alta velocidade num prazo menor do que três anos, ou seja, até 2010 - fim do mandato do Lula. Com exceção da repercussão da medida sobre os ativos da Telebrás na Bolsa de Valores, eu nunca mais encontrei informações sobre o projeto de três bilhões de reais. Eis que na última sexta-feira de Junho, 26, surge uma notícia:
“Internet grátis e sem fio chega a Ipanema e Leblon”.
Outros bairros e alguns municípios também estão no plano do projeto, segundo a reportagem do G1. Parece que é um projeto dentro de outro projeto; porque no projeto estadual serão xis, ipiçilon e dablio cidades e no projeto federal serão TODAS as cidades do Brasil. Ou aqueles bilhões já caíram no esquecimento? Apesar da lentidão política é possível afirmar que o número de internautas é crescente e que o acesso à internet reflete no comportamento da sociedade.

Uma pesquisa recente, divulgada pelo Ministério da Saúde, indica que 7,3% dos brasileiros já tiveram relações sexuais com parceiro conhecido via internet. A estatística é preocupante; as pessoas estão trocando as boates e os amigos por salas de bate-papo e redes de amigos. Só hoje, eu li no Yahoo Respostas o mesmo tipo pergunta feita por três pessoas diferentes:
“Conheci um rapaz pela net e ele quer se encontrar comigo! O que eu faço?”
A televisão é outra que está sempre mostrando casais que se apaixonaram pela internet, se encontraram, casaram e estão felizes até hoje. Uma espécie de conto de fadas para qualquer solteirona à beira dos 30.

Infelizmente, o desespero junto a preguiça de sair da zona de conforto faz as pessoas esquecerem a realidade. E que o engenheiro moreno de 1,8m das conversas pode ser um aposentado de careca brilhante. O que seria um alívio quando comparado a um seqüestro planejado pelo seu ex-paquerador. Mesmo acontecendo todas essas barbaridades, certos internautas insistem no negócio, então restam os conselhos: avisar uma amiga, encontrá-lo num estabelecimento movimentado, levar celular e outros.

Além dos encontros, os pedidos de desculpa e as DRs (discussões da relação) também deixaram o “ao vivo” e tornaram-se “virtuais”. Não tem mais aquela história de chegar para a pessoa, pedir desculpa, se chamar de idiota, dar um abraço e voltar a serem amigos. Ou dizer ao parceiro o que lhe incomoda. Agora é tudo tecnológico. Brigou com a amiga? Poupe emoções! Mande um depoimento que estará tudo resolvido. Brigou com a namorada? Nada de encontrá-la para discutir a relação. Mande um e-mail que ela responde. A tecnologia está aí para facilitar a vida, mesmo. Mas há exageros e esses são um deles. Não há nada melhor do que falar a verdade na cara das pessoas. Chorar, se abraçar, rir, começar do zero com a pessoa amada. Em processos como esses, a internet por ser um meio, que comunica principalmente através da escrita, atrapalha e o pior, não deixa você ver as reações do outro. Sou a favor do mundo inteiro conectado pela internet, mas não do abusivo desta.